Se pudesse escolher, provavelmente não veria a menor graça naquela mulher. Mas Letícia era intensa como uma festa: uma alegoria das suas melhores lembranças. Com ela recordava o menino que deixara escapar da alma.
No momento em que o telefone tocou, às duas horas da madrugada, não conseguiu conter o sorriso. Do outro lado da linha, a voz dela:
— Quero conversar.
— Tenho alguma opção além desta?
Ela riu antes de admitir:
— Você sabe a resposta.
— Só não digo até quando.
— Eu sempre estou por um triz contigo. E sem rede de segurança.
— Isto é um pedido?
— Nunca peço nada.
Era verdade. Letícia não pedia. Exigente e fora de controle como uma criança insuportável que acredita ser o umbigo do mundo. E nada poderia atraí-lo mais. Por isso a mantinha a uma distância segura: um milímetro da beira do abismo.
— Faça isso agora. Peça uma coisa cara.
— Diamantes.
— Desconheço o termo.
— Deve ser porque sou a única coisa brilhante em sua vida.
— Minha luz.
— Acende o abajur.
E os dois sorriram, ao mesmo tempo, como quem coloca entre parênteses tantas noites solitárias.
(*) Imagem: Google
Cumpl[intensi]dades...
ResponderExcluirEu curto conto curto (2)!
ResponderExcluiresta é uma relação sadia,leve e feliz...
ResponderExcluiré só querer pra ser assim!
bjs
Você construiu um diálogo muito interessante entre os personagens. Curti!
ResponderExcluir"...Uma distância segura: um milímetro da beira do abismo."
ResponderExcluirInstigante. Inteligente. Excelente!
"...A uma distância segura: um milímetro da beira do abismo".
ResponderExcluirInstigante. Inteligente. Excelente!
instigante como disse a Helena! a alma procura abismos para se abastecer do intenso! beijos
ResponderExcluirmais um!
ResponderExcluirO lado escuro da lua,
ResponderExcluiro outro lado da rua
denso, perigoso, bem
diferente do primeiro
conto. Poderoso, bjs.